sexta-feira, 19 de outubro de 2012

ANJOS VOAM


Lá estão os meus Pastores Alemães Brancos, brincando, sobre a colina.
Muitas vezes tenho refletido sobre sua transcendência, olhando-os assim, de longe. E acabei me convencendo de que ali não estão simples animais, ainda que cães, esses bichos sagrados, superiores, guardiães fiéis da nossa frágil humanidade, desde as cavernas. Os Pastores Alemães Brancos vão muito além desse conceito. 
Ali se veem símbolos eternos. O da amizade incondicional, por exemplo. Porque um Pastor Alemão Branco é um amigo que, além de morrer por nós, defendendo-nos, eleva essa amizade à condição da cumplicidade: não só entende as nossas angústias, como nos aponta as saídas. Basta conversar com eles. Quem possui um, entende perfeitamente o que digo. Experimente você também. Conte-lhe seus problemas. Todos. As respostas surgem, inequívocas, por meio de olhos doces que leem a alma; seu corpo esguio, charmoso, vai-se aconchegando às suas pernas e, em pouco tempo, você estará envolvido em um campo magnético propício aos insights, clarividências, iluminações. As respostas às suas angústias.
(A cor branca, é claro, tem tudo a ver com isso. O branco é a soma das sete cores básicas, e a soma simboliza o uno enquanto divindade. Se você imaginar, simbolicamente, que as cores são correntes vivas, energias diversificadas, conclui que a soma de todas elas só pode levar à luz divina da unidade – pureza celestial na sua forma mais complexa. Místico demais? Nem tanto: quando se fala de Pastores Alemães Brancos está-se tratando de um tema espiritual. É o que os próprios cães sugerem.)
Outra qualidade que insisto em destacar no Pastor Alemão Branco é o seu caráter incorruptível. Há, rodando na internet, um texto de autor desconhecido que fala de características especiais dos cães em geral, insinuando que deveríamos copiá-las. Todos os cães têm, realmente, aquelas qualidades, mas o Pastor Alemão Branco eleva-as a formas espiritualizadas. Por exemplo: ele jamais esconde na aparência o que realmente é; pratica a obediência, se isso for necessário, mas deixa claro quando percebe a invasão do seu território; e evita agredir, morder, se apenas um rosnado resolver o assunto.
E, sobretudo (ainda citando aquele texto), o Pastor Alemão Branco costuma sublimar o momento em que encontra seu dono num dia ruim: aí ele fica em silêncio, deita-se próximo e, gentilmente, tenta agradá-lo.
Há muitas outras referências transcendentais relacionadas a esse animal inigualável, que, aliás, eu nunca vi exatamente como um cão, mas como um extraterrestre. Não sei se a incidência da luz é maior no seu pelo ou na sua alma; talvez nos dois, pois segundo o Livro do Apocalipse, o branco é a cor das vestes daqueles que são realmente puros.
É por isso que não posso deixar de ver, naquela colina, os meus Pastores Alemães Brancos como seres transfigurados. Estados celestes. Sinônimos de leveza e de expansão. De equilíbrio. A cor branca, vocês sabem, amplia os espaços, espraiando-se ao infinito. Não sofre impedimento nem fronteira. O branco não está na terra nem no céu: o branco é a integração. 
Quando você tiver um Pastor Alemão Branco, vai entender melhor tudo isso que lhe digo. E nem dará muita importância a um fenômeno próprio dessa raça: quando ele trota, permanece milésimos de segundo suspenso no ar – como se ensaiasse um voo. Aliás, se ele voar, você também não dará a mínima: quem vai achar estranho que Anjos voem? 


Fernando Portela criou Pastores Alemães Brancos durante anos.
Leia abaixo comentários do escritor e jornalista sobre a raça:

O PAB tem uma bela história.
No final da II Guerra, quando as forças aliadas invadiram a Alemanha, policiais militares ocuparam, também, as inúmeras criações de Pastores Alemães, muito usados, aliás, na própria guerra.
O PA possui três linhagens de cor: capa preta, o mais conhecido; preto; e cinza. Os alemães nunca gostaram muito dos pretos e menos ainda dos cinzas, mas os toleravam.
Em algumas ninhadas, no entanto, nasciam cães inteiramente brancos. Os alemães os mandavam para o céu no ato do nascimento, alegando que se tratavam de albinos.
Não eram. Albinos teriam, por definição, manchas róseas na epiderme, sobretudo nas almofadas dos pés, céu da boca e comissuras labiais. E, infalivelmente, albinos teriam olhos muito claros.
O PAB não tem nada disso: só o pelo é branco; o resto, igual aos seus irmãos de outras cores.
Maravilhados com a beleza dos brancos, americanos e canadenses os exportaram para seus países. Hoje, nos Estados Unidos, o branco é reconhecido pelas entidades cinófilas, possuem até associações próprias, ganham concursos e tudo o mais. Têm pelo curto e pernas em geral mais longas do que os canadenses.
Já no Canadá, criadores experimentaram, há quase 70 anos, a cruza dos brancos alemães com o Lobo do Ártico, outro animal lindíssimo, de pelo completamente branco, habitante das regiões geladas. É por isso que boa parte dos PAB de origem canadense têm pelo longo, pernas um pouco mais curtas (não muito), e, obedecendo a heranças genéticas, batem com a pata na água, antes de bebê-la, para "quebrar" o gelo, como seus trisavós lobos.
Então, essa é a origem do maravilhoso cão; eu sempre possuí, na minha criação, americanos e canadenses, mas sou mais chegado nos peludos. O Tyler (foto) é um misto dos dois.
Há um certo mistério, apesar de todas as teorias que já li, na constituição do PAB: sua inteligência, segundo as provas de Agility, é equivalente à do cão mais genial de todos os tempos, o Border Collie, célebre pastor de ovelhas do Reino Unido. Explicação mais plausível: o PA comum já é muito perceptivo, está a um patamar abaixo do Border Collie; e como o branco não possui a agressividade, mesmo a dirigida, dos seus congêneres capa preta, preto e cinza, "sobraria" um espaço em seu cérebro para elaborar melhor as associações. Já o trote com os milésimos de segundos de levitação, só eles fazem.

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